terça-feira, 30 de agosto de 2011

Manoel de Barros

Filme: "Só Dez Por Cento é Mentira"






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domingo, 21 de agosto de 2011

Rubem Fonseca

OS INOCENTES

O mar tem jogado na praia pinguim,
                             [tartaruga gigante, cação, cachalote.
Hoje: mulher nua.

Depilada Parecia enorma arraia podre.
Porém cabelos e pelos lembram animal da
                                                     [família do macaco;

corpo lilás de manchas claras mármore de carrara
                                                            [incha exposto;

sangue, tripas, ossos perderam calor e pudor;

olhos, lábios, boca, vagina: peixes devoraram.

Banhistas instalam barracas longe da coisa morta,
logo envolvida por enorme círculo de areia, indiferença,

                                                                          [asco.

Policial limpa suor da testa, olha gaivota, céu azul.

Afinal rabecão: corpo carregado.

Espaço branco vazio cercado

pelo colorido das barracas, lenços, biquinis, chapéus,
                                                                      [toalhas,

por todos os lados.

Chega família:

"Olha, parece que reservaram lugar para nós."


*Conto do livro "Lúcia McCartney" de Rubem Fonseca.

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Ferreira Gullar

INSETO

Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica

Também mais complexo
                      que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)

e pode às vezes
                      (o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
           ou quem sabe
                               uma vida

*Poema do livro "Em alguma parte alguma" de Ferreira Gullar.

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sábado, 20 de agosto de 2011

Tango Bonito

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Manias


(...)
Mas não há como evitá-lo: com a idade cedemos ao costume, precisamos disso, e o motor circular de um dia extenso nos traz de volta ao mesmo jardim. Nele, todas as flores fomos nós que plantamos, todos os bancos têm nosso nome e a sombra da catedral nosso próprio formato. Não passamos então de tristes autores de nossas vidas, sobre a qual exercemos controle minucioso e despótico - herdeiros de dias antigos, proprietários cuja escritura foi lavrada com nosso medo e tédio. Em certa medida, vamos nos parecendo cada vez mais com a matéria inerte, e não com corpos elásticos feitos para o banho e para a tarde vermelha. Nosso pulmão vai se mineralizando, temos a constância dos eventos naturais (saímos de casa às seis horas, somos alérgicos a chocolate, ouvimos tangos, apenas tangos), e uma ferida azul escura vai se cravando em nossa canela, nossa espinha verga, nossos olhos perdem brilho e transparência, como leite quando talha. Então transformamo-nos num sistema circular de tiques, opiniões, fixações coletivas, cacoetes socializados, imbecilidades consentidas.
(...)

Trecho da parte "11-Manias, na trincheira", do livro Ó de Nuno Ramos.

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Juliano Garcia Pessanha