terça-feira, 17 de agosto de 2010

La mer d'ici, La mer de là

E começou o horário eleitoral obrigatório... Vamos ler uma crônica de 07 de agosto de 1994, da querida Hilda Hilst?! A bênção, dona Hilda.
LA MER D'ICI,
LA MER DE LÀ
É o seguinte, negada: tudo isso de partidelhos, grupelhos, coligações me soa a bandalheira. Já pensou Jeshua coligando com os vendilhões do Templo? Se ele tivesse "coligado", poderia ter usado o chicote para expulsá-los? Céus! O que há com as gentes? Por que não escolhem alguns raros, de "notório saber", e elaboram um plano-modelo para o país? Qualquer idiota sabe que é preciso erradicar a miséria, dar chances do cara ter casa, comida, escola e poder tratar da própria saúde. Que homens poderiam fazê-lo? E de que forma? Se você já coligou com assassinos, ladrões, pulhas, tá fora. "Políticos" deveriam passar por uma junta médica, por psiquiatras, psicólogos, médicos da alma, porque é demais o que se vê estampado na cara, nos gestos, no olho, no sorriso... e parece que ninguém vê. Coitadinhas das gentes! Esses tristíssimos banguelas esfarrapados, sofridíssima gente!

Ai, cada vez que se liga o rádio e a televisão vem aquela enxurrada de besteiras, as mesmíssimas promessas, as vozes tonitroantes, e ninguém fala "como vai fazer" o que pretende. Tá chovendo bosta no mundo, gente! Até o monte Everest, oito mil e tantos metros de altura, está coalhado de bosta! Agora um escocês vai pedir auxílio à Grã-Bretanha e viabilizar um plano pra tirar a montanha de excremento que se fez no topo! Com a mania de "mens sana in corpore sano", a negada do mundo inteiro resolveu "alpinar", chegam lá em cima e defecam naquela beleza! Quem sabe se o mesmo plano vai servir pros baixios daqui e do porvir? Basculantes de excremento montanha abaixo: lotes de políticos despencando lá do Corcovado! Valetas profundíssimas ao redor do monte sagrado! Todos de boca aberta vomitando palavras! Josué de Castro nos diz: "É hora de palavras duras e inconvenientes". É sim, senhores: basta de pulas! O ideal de homem político deste fim de século teria de possuir um coração limpo, a alma dilatada de fraternidade, compaixão e coragem. Ah, que difícil! Mais difícil ainda porque me lembrei agora das terríveis palavras de santa Angela de Foligno (séc. XIII) que relata a visão que lhe foi dada: "Certa vez minha alma elevou-se e vi Deus imerso numa claridade e numa plenitude jamais vista por mim de forma tão intensa e plena. E ali não havia nem sombra de amor". Ficou arrepiado, negão? Eu também.
*Crônica compilada no livro "Cascos & Carícias & Outras Crônicas".

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

W.O.

Terei q dizer
"Eu te amo"
Pra vc perceber?

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Debaixo de um arco-íris

(...) "De Diadorim, aí jaz que descansando do meu lado, assim ouvi: — “Pois dorme, Riobaldo, tudo há-de resultar bem...” Antes palavras que picaram em mim uma gastura cansada; mas a voz dele era o tanto-tanto para o embalo de meu corpo. Noite essa, astúcia que tive uma sonhice: Diadorim passando por debaixo de um arco-íris. Ah, eu pudesse mesmo gostar dele — os gostares..."
Trechinho do "Grande Sertão: Veredas", do grande João Guimarães Rosa.
(encontrado neste: site)