domingo, 30 de novembro de 2008

A PALAVRA

Lendo alguns textos a procura de algo que me inspirasse nesta noite de domingo, me deparo com este texto de Sylvia Plath. A luta relatada abaixo expressa muito bem este momento de briga entre o viver e o escrever. Há momentos em que os sentimentos nos aprisionam, sufocam, nos deixando totalmente amordaçados, sem poder dizer nenhuma palavra que faça sentido... Bem, vamos ao texto:

A PALAVRA

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rochaQue cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
EncontroEssas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Áspide

Atendendo ao pedido do Sr. Wilson, segue a primeira postagem de um texto de minha autoria.


Áspide malévola que me cerca,
A que devo tal visita áspera?
Com qual pretexto aparece neste texto?
Áspide lumbricóide que corrói estas entranhas,
Saia do caminho desta obra em verso, volte ao reverso do processo,
Rasteje sobre a escuridão que se distancia, sorria para o novo que se inicia.

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Augusto de Campos - tudo está dito (1974)

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quinta-feira passada, dia 13/11, estive no Chevrolet Hall durante o 9° Encontro de Literaturas (gostava mais da confusão dos corredores cheios da Serraria Souza Pinto, sem falar da variedade de estandes, inclusive de sebos -deixar a Livraria Amadeu de fora não pode!-, que ficaram faltando no evento deste ano), então, estive lá, durante o Proseado, destaque para a escritora, professora, jornalista, mestra em psicologia social, Rosália Diogo, que lançou o livro "Rasuras No Espelho de Narciso - educadoras negras e a crítica às representações do negro na mídia". Quando já me preparava pra ir embora, num estande, pelo qual havia passado direto antes, havia uns camaradas levando um som, reconheci o Ricardo Aleixo e o Bruno Brum, parei lá e fiquei folheando uns livros deles e curtindo o som e as poesias que iam mandando. Fui chegando e acabei conhecendo também o Chico de Paula e o Waldemar Euzébio, figuraças! Tava muito bom... Para quem não os conhece a seguir há um texto de cada, fico devendo um do Waldemar..., e corram atrás dos livros deles, que são muito bons!

Do livro "cada" de Bruno Brum:

Fora

Escarafunchando
ninhos de
garranchos
como se
grunhisse arpejos
&
arranjos
de repente se
acham cachos
donde
desabrocham
carinhos
&
carunchos.

Do livro "Máquina Zero" de Ricardo Aleixo:

Paupéria revisitada

Putas, como os deuses,
vendem quando dão.
Poetas, não.
Policiais e pistoleiros
vendem segurança
(isto é, vingança ou proteção).
Poetas se gabam do limbo, do veto
do censor, do exílio, da vaia
e do dinheiro não.
Poesia é pão (para
o espírito, se diz), mas atenção:
o padeiro da esquina balofa
vive do que faz; o mais
fino poeta, não.
Poetas dão de graça
o ar de sua graça
(e ainda troçam
- na companhia das traças -
de tal "nobre condição").
Pastores e padres vendem
lotes no céu
à prestação.
Políticos compram &
(se) vendem
na primeira ocasião.
Poetas (posto que vivem
de brisa) fazem do No, thanks
seu refrão.

Do livro "44", de Chico de Paula:

ATESTADOS DE ÓBITO

1.
Médica legista. Os cabelos repicados, castanhos, a orelha semidescoberta. Curtos. Ou quase curtos. A boca quase trêmula, quase insinuante. Os olhos fixos no corpo. As mãos esperando o momento de tocar e analisar todas as causas. Movimentos hesitantes. Quando ela me descobriu, eu ainda estava vivo.
2.
Acupunturista. Mãos firmes. Aponta sempre para onde? Cutuca feridas, espreme pontos nevrálgicos, planta intriga, semeia raiva. A calma e a paciência orientais nunca foram o seu forte, já que aprendeu o ofício no ocidente - onde nasceu, como forma de ganha-pão, que nunca amassou. Nem o diabo, que sempre teve coisa melhor pra fazer.
3.
Piloto de ambulância. Ficou surdo levando pacientemente enfermos sem nenhuma paciência. Parou de escutar. A tecnologia de emissão melódica de gemidos extremamente altos e cortantes passou a ser apenas uma paisagem rotatória, intermitente, sem muita dor. Isso pra ele foi a morte.
4.
Deus. Já não existia quando foi inventado.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Do Mestre Augusto dos Anjos

Como participação inicial minha, não poderia deixar aqui um poema que não fosse do mestre Augusto dos Anjos.

Nestes contrastes vividos, sempre sofridos, contudo sentidos, há uma dicotomia variante do ser vivente, operante, errante.

E vamos seguindo...


Contrastes

A antítese do novo e do obsoleto,
O Amor e a Paz, o Ódio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina.
Tudo convém para o homem ser completo!

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!

Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes,
Junta-se um hemisfério a outro hemisfério,

Às alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemitério!.

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Poeminha do mestre Fausto Wolff

Eis um poeminha do mestre Fausto Wolff, do livro "O Pacto de Wolffenbüttel e a Recriação do Homem".

PLANALTO

Se todos disséssemos "não"
E agüentássemos as conseqüências,
Os ratos teriam de se devorar entre eles.
Teriam de roubar uns dos outros,
Sodomizar os próprios filhos,
Prostituir suas esposas e crianças.
Talvez, depois disso, pudéssemos
Todos cantar novamente,
Orgulhosos, o Hino Nacional.


É... saudade grande do grande Fausto...

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